sábado, 6 de abril de 2013


Quem morre?

Morre lentamente, quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo...
Morre lentamente,
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma cor nova
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente, quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco,
e os pontos sobre os “is”
em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente
o que resgata o brilho nos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente, quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto
para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se
da má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não lhe responde quando lhe indagam
sobre algo que sabe
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda