Poema
do futuro
Conscientemente
escrevo e, consciente medito o meu destino
No
declive do tempo os anos correm,
Deslizam
como a água, até que um dia
Um possível
leitor pega num livro
E lê,
Lê displicentemente,
Por mero
acaso, sem saber porquê.
Lê e
sorri.
Sorri
da construção do verso que destoa
No seu
diferente ouvido;
Sorri dos
termos que o poeta usou
Onde os
fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
E sorri,
quase ri, do íntimo sentido,
Do latejar
antigo
Daquele
corpo imóvel exumado
Da vala
do poema.
Na história
natural dos sentimentos
Tudo se
transformou.
O amor
tem outras falas,
A dor
outras arestas,
A esperança
outros disfarces,
A raiva
outros esgares.
Estendido
sobre a página, exposto e descoberto,
Exemplar
curioso de um mundo ultrapassado,
É tudo
quanto fica,
É tudo
quanto resta
De um
ser que entre outros seres
Vagueou
sobre a Terra.